Na sua crónica do Público da passada sexta-feira, 7, escreveu Vasco Pulido Valente: «Numa
cerimónia, de ano para ano mais penosa, o Presidente da República foi à
Praça do Município celebrar a República radical, quando já esta anuncia
a sua própria desaparição». Referia-se, naturalmente, à «pindérica festarola do “5 de Outubro”, a que ninguém ligou».
É, constata-se essa fixação do
Poder em não deixar em definitivo o obsoleto ritual de, cada vez que a
República festeja sozinha o seu aniversário, içar a bandeira na varanda
da Câmara onde, certa vez, alguns milhares de portugueses presentes
acreditaram nas promessas de uns tantos malandrins a breve trecho
completamente desmascarados quanto às suas intenções e capacidades. Com
uma ligeira diferença: há já muitas décadas, a praça defronte está
rigorosamente vazia, afora quaisquer cornetas e bombos da banda dos
Sapadores Bombeiros, para o efeito convocada.
Até aqui, as novidades são nenhumas. Curiosa, e merecedora de reflexão, é a expressão de VPV – «A República radical». Como se houvesse outra, porventura a “moderada”.
Não
há. A República é só uma. E os seus acólitos quase nenhuns. Serão eles,
apenas, os tais «radicais». Descontando o extremismo cesarista de
Direita e o igualitarismo pavloviano de uma certa Esquerda, a
indiferença tomou definitivamente a vez do republicanismo, em tudo o que
não diga respeito à consagrada «ética republicana». Quero
dizer: àquelas franjas do espectro partidário, por norma ligadas ao PS,
onde muito fraternamente se pratica a negociata, o conluio, o tráfico de
influências e outros mais petiscos cozinhados de avental.
Fonte: Corta-Fitas
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