Lisboa,
30 set (Lusa) - Uma exposição sobre a "perseguição à imprensa" e uma
"Proclamação de Lealdade" a D. Duarte de Bragança são algumas das iniciativas
previstas por diversas correntes monárquicas e que coincidem com o
centenário da implantação da República.
A organização "Plataforma
do Centenário da República" inaugura na segunda feira às 17h00 no
Palácio da Independência, em Lisboa, a exposição "A Repressão da
Imprensa na I República", que integra várias dezenas de quadros e
"evidencia a existência de um sistema repressivo regular e duradouro
mantido ao longo da I República", segundo os organizadores.
"A
'Plataforma do Centenário da República' tem um site onde há mais de dois
anos apresenta uma historiografia independente da propaganda e sobre a
República, que é mistificada. Nesse sentido organizou esta exposição e a
apresentação será feita por José Manuel Fernandes, ex-diretor do
Público", precisou em declarações à Lusa João Távora, 49 anos, membro do
conselho executivo da Causa Real, da direcção da Real Associação de
Lisboa e um dos organizadores do evento.
As iniciativas
monárquicas prosseguem no dia 5 de outubro, em Guimarães, com uma
"Proclamação de Lealdade" para com o Chefe da Casa Real, D. Duarte Pio,
Duque de Bragança, que fará uma alocução seguida de sessão de
cumprimentos.
O objetivo consiste em juntar membros de todas as
Reais Associações do país, simpatizantes da Causa Monárquica e "cidadãos
que não se reveem na actual forma de regime", ainda segundo os
promotores.
"Vamos juntar os monárquicos à volta do Sr. D. Duarte
no Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, que é o berço da
nacionalidade", sublinha João Távora, que define o 5 de outubro como "o
corolário de uma série de infelicidades que sucederam a Portugal no
final do século XIX e princípio do século XX".
Na perspetiva do
dirigente da Causa Real, a República significa "mais um pouco da perda
da nossa identidade, uma data que não assinalamos com alegria". E que
surge na sequência de um regicídio, definido como "um golpe de Estado
violento a um regime constitucional que era tendencialmente livre e
democrático como eram todos naquela época, e legitimado por uma
Constituição".
João Távora arrisca uma abordagem comparativa ao
sugerir que o 5 de outubro "seria como se um partido radical da esquerda
ou da direita, com pouca relevância nacional, aproveitasse o actual
momento de crise, fizesse um golpe de Estado e mudasse o regime de alto a
baixo".
Um problema que na sua perspectiva "afecta Portugal há
muitos séculos, sistematicamente deitar abaixo estruturas e instituições
com obra, para começar tudo outra vez. É um fado que implica sermos um
dos países mais atrasados da Europa moderna, estamos sempre no fim do
pelotão".
Após recordar que se refere a um país "com 900 anos de
História e onde era natural que se vivesse uma monarquia estável",
insiste numa das principais reivindicações da correntes monárquicas: a
"necessidade do regime nos dar o direito de sufragar a República, porque
a República nunca foi sufragada e foi segurada por Salazar". Assim, a
democracia apenas foi alcançada após o 25 de abril "e ainda não é
completa", argumenta.
Ao socorrer-se de uma frase de Miguel
Esteves Cardoso 'Os monárquicos são o maior grupo na clandestinidade em
Portugal', João Távora sintetiza, em conclusão, os 16 anos da I
República: "Essencialmente um regime terrorista, com muitas nuances,
teve muitos governos mas ofereceu-nos de bandeja uma ditadura de mais 48
anos, porque é bom não separar as duas ditaduras. Uma ditadura popular e
uma ditadura do Estado Novo".